Home office, soft skills digitais e novas profissões: como será o mercado de trabalho pós-pandemia

O surgimento da covid-19 mexeu com a rotina não só dos brasileiros, mas de todo o planeta. Neste cenário, hábitos de consumo foram modificados e o mercado de trabalho não ficou imune. O avanço da pandemia fez crescer também o número de desempregados no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o País terminou o primeiro trimestre de 2020 com 1,2 milhão de pessoas a mais na fila do desemprego. E em
meados de julho, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que o desemprego deve aumentar ainda mais nos próximos meses.
Apesar de um cenário (a princípio) pouco animador, é certo que alguns setores do mercado sairão da pandemia beneficiados. Essa é a perspectiva de especialistas consultados pelo E-Investidor. Dentre as áreas com potencial de crescimento, a que aparece de forma mais clara provavelmente é a saúde. Ainda haverá postos, portanto, para médicos, enfermeiros, farmacêuticos, neurocientistas, socorristas, entre outros.
Ao mesmo tempo, áreas ligadas ao bem-estar físico e mental, que extrapolam a preocupação de saúde referente apenas às doenças, também devem sair da crise aquecidas; nunca se falou tanto em cuidado pessoal como agora. Psicólogos, nutricionistas, profissionais de educação física e gastrônomos com foco na alimentação saudável, por exemplo, provavelmente encontrarão bom espaço no mercado em um futuro próximo.
“A tecnologia é outro setor que merece atenção. E é importante ressaltar que ela está presente em diversas áreas. Não serão, nesse sentido, somente os segmentos de ciências da computação ou sistemas de informação que serão procurados. Temos que citar a engenharia de softwares e aplicativos; user experience; direito, marketing e jogos digitais. Ainda, tudo o que impulsionar o atendimento remoto, como logística e e-commerce”, afirma Simone Vilela, coordenadora da área de Gestão de Carreiras da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).
Já o setor de educação, em especial o de Educação a Distância (EaD) e de novas plataformas de ensino, com professores, tutores e operadores, e de cursos curtos, voltados à educação continuada, precisa ser destacado. Profissionais de design, multimeios e criação de conteúdo, campos ligados à criatividade, também são citados pelos especialistas, assim como os de mídias sociais, principalmente por conta dos eventos online, como webinars, que devem passar a ser mais utilizados.
No campo corporativo, a gestão em Recursos Humanos (RH) promete ganhar força, afinal esses trabalhadores atuarão fortemente nos processos de recolocação, transições de carreira, capacitação e desenvolvimento de pessoas nas novas competências que o mundo do trabalho irá requerer.
Competências necessárias
A respeito das competências necessárias para a nova configuração do mercado de trabalho que surgirá no pós-pandemia, a professora da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Ana Claudia Bilhão diz que as soft skills, como gestão das emoções, empatia, resiliência, comunicação interpessoal e liderança vão continuar em alta, mas serão atravessadas pela tecnologia, ou seja, os profissionais terão que aplicá-las em contextos digitais. “Competências relacionadas à autogestão, gestão do tempo, autocontrole emocional, cooperação e resolução criativa serão ainda mais valorizadas daqui em diante”, diz.
Isso porque tudo indica que o mercado de trabalho será norteado, a partir de agora, pelo home office. É o que aposta Victor Martinez, psicólogo organizacional e professor de Comportamento Organizacional e Recursos Humanos na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “O home office traz vantagens econômicas para a organização e para o empregado, pela comodidade, trânsito e qualidade de vida”, pontua.
Por exemplo, 86% dos profissionais entrevistados em pesquisa realizada pela consultoria de Recrutamento e Seleção Robert Half, em maio, afirmaram que gostariam de trabalhar remotamente com mais frequência quando as restrições de isolamento foram flexibilizadas. Já levantamento da ISE Business School divulgado no mesmo mês apontou que 80% dos gestores brasileiros gostam da nova maneira de trabalhar.
“Nesse cenário, serão necessárias competências como flexibilidade, adaptabilidade, colaboração, inteligência emocional e autogestão. O trabalho remoto traz desafios como a disciplina, a nova forma de se comunicar pelas plataformas e o gerenciamento da vida pessoal e profissional, tanto para não negligenciar nenhuma delas, mas também para não alimentar a famosa síndrome de burnout que é o esgotamento emocional e físico relacionado à vida profissional”, orienta Simone Vilela, da Faap.
Por outro lado…
Se por um lado há setores que serão beneficiados pela pandemia e que sairão dela fortalecidos, há também aqueles que podem ser prejudicados. Simone não arrisca citar profissões em si, mas acredita que áreas e profissionais que não se adequarem ao mundo virtual podem sair perdendo no pós-crise.
“Se aprendermos a nos relacionar bem por meio das novas tecnologias, sempre haverá uma forma de oferecermos nosso trabalho. Se isso não acontecer, porém, seremos engolidos por ela. Digo isso porque nos últimos tempos a valorização tem sido mais por profissionais multitarefas, com múltiplos conhecimentos e com bom relacionamento interpessoal do que propriamente pela formação acadêmica”, comenta.
No mesmo sentido, Ana Claudia aponta que postos que possam ser facilmente substituídos por alguma tecnologia ou máquina devem ser prejudicados, principalmente para evitar o contato físico. “Porteiros, recepcionistas, atendentes são alguns exemplos. Trabalhadores domésticos também, já que muitas pessoas passaram a cuidar da limpeza de suas casas e podem ter adquirido equipamentos que facilitam o processo”, opina.
Haverá espaço para tantos desempregados?
Sobre a taxa de desemprego que deve aumentar no Brasil passada a pandemia de covid-19, especialistas acreditam que o mercado formal de trabalho não dará conta de absorver, no curto e médio prazo, o contingente de desempregados. Por isso, a informalidade deve ser ampliada como medida de subsistência, e não pelo desejo de empreender. O cenário, porém, não será definitivo. No médio a longo prazo, o mercado deve se reconfigurar a partir do novo ‘estado das coisas’ trazido pelo impacto da pandemia e seus desdobramentos sociais, econômicos, políticos, tecnológicos, ambientais e legais.
Simone Vilela afirma que a diferença crucial está entre aqueles que se adaptam às mudanças e os que, simplesmente, conformam-se. “Nesse tempo de quarentena, oferecemos [na Faap] um workshop gratuito sobre desenvolvimento de soft skills com alto número de inscritos, mas apenas metade compareceu”, diz.
“Na hora dos exercícios práticos em pares ou em grupo, mesmo que virtualmente, 30% deles simplesmente deixaram o evento. E isso aconteceu durante os três dias de workshop. A minha percepção é de muitos desejam uma vida melhor e uma carreira bem-sucedida e próspera, mas poucos fazem questão de investir nisso”, completa.
Coragem para se reposicionar
Para aqueles que trabalhavam nos setores mais prejudicados pela crise e que desejam se recolocar no mercado, com foco nas áreas que serão beneficiadas, a professora da Faap diz que é preciso ter coragem para enfrentar novos desafios.
“Se a mudança de área for muito radical, uma faculdade fará diferença, e haverá a possibilidade de estagiar. Com mais idade? Sim, mas, muitas vezes, é essa experiência que faz a diferença na hora de uma contratação. Lembrando que hoje há diversos cursos com duração de dois anos. Uma pós-graduação na nova área também abre portas, mas dependendo do ramo, cursos técnicos e rápidos de certificação podem surtir efeito”, orienta Simone.
Ainda que os trabalhadores mais velhos possam ficar assustados com o novo cenário, Ana Claudia Bilhão ressalta que a senioridade abre a possibilidade de profissionais atuarem como consultores internos ou externos, bem como em processos de mentoria. “Os profissionais experientes podem investir em cursos de extensão ou se tornarem autodidatas para, rapidamente, suprirem lacunas de conhecimentos, especialmente relacionadas ao uso de novas tecnologias e idiomas”, pondera.
“Nos casos em que o desejo é uma transição de carreira, dependendo da profissão escolhida, poderá ser necessário cursar uma nova graduação ou cursos de aperfeiçoamento. Quem pretende ampliar a sua atuação profissional pode investir em pós-graduação lato sensu, com especialização ou MBA”, finaliza.
Fonte: Estadão
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